Empresários discutem como mudanças nos EUA podem abrir novas janelas no mercado de cannabis
Nova regra dos EUA restringe derivados de cânhamo e abre oportunidade para países da América do Sul atenderem parte da demanda brasileira
Publicada em 04/12/2025

Imagem: Canva Pro
A nova legislação sancionada pelo presidente Donald Trump, que redefine o conceito de cânhamo e restringe a circulação de derivados nos Estados Unidos, abre espaço novas oportunidades de mercado. Com previsão de entrar em vigor no fim de 2026, a adoção do cálculo de THC total — que passa a incluir THCA, delta-8 e outros isômeros — e a criação de um limite de 0,4 mg por embalagem, grande parte das flores e extratos norte-americanos podem sofrer restrições comerciais. A transição, sob supervisão da FDA, pode redesenhar as rotas de fornecimento para mercados como o brasileiro.
Nesse novo cenário, o Uruguai é um dos países da América do Sul que busca estreitar as relações comerciais com o Brasil, segundo executivos do setor.
O cofundador da Extracto Del Sur, Claudio Valenti, afirma que o país está pronto para ampliar as relações comerciais com o mercado brasileiro. “O Uruguai está bem posicionado para aproveitar e ter a oportunidade de suprir essa demanda”, disse. Ele destaca que o país consegue adaptar rapidamente o sistema agrícola: “Uruguai se centralizou num momento numa produção agrícola exclusivamente para flores de CBD para a Europa. Isso tem custos mais altos. Mas, para a biomassa necessária à indústria do cânhamo, existe possibilidade real de trocar o sistema produtivo e oferecer biomassa a bom preço. Está preparado.”
A qualidade dos produtos uruguaios também é destacada por Juan Sader, diretor da Cannabeezy. Para ele, a restrição aos full spectrum nos EUA terá impacto direto na RDC 660 brasileira. “Uruguai, Paraguai e Colômbia estão em condições de substituir esses produtos com uma rastreabilidade ainda melhor”, afirma. Ele enfatiza o rigor dos laboratórios uruguaios: “Os requisitos são superexigentes. Precisamos de certificado de análise até do vidro.” Com isso, Sader avalia que os países vizinhos podem substituir “até 40%” dos produtos hoje importados dos EUA.
A Nota Técnica nº 58/2025, divulgada pela Anvisa em setembro, atualizou o panorama dos produtos de cannabis importados individualmente via RDC 660. Segundo o documento, o mercado brasileiro conta hoje com cerca de 600 produtos, provenientes de mais de 500 empresas internacionais.
Os Estados Unidos aparecem como o principal fornecedor, liderando com a maior quantidade de itens disponíveis para pacientes brasileiros. Em seguida, o Canadá mantém presença relevante, acompanhado pela Colômbia, que vem ampliando sua participação com a oferta de óleos e extratos. O Uruguai também se destaca pela proximidade geográfica e pela expansão de sua produção, enquanto Países Baixos e Espanha completam a lista de países com presença significativa nas importações.
O Brasil atingiu 873.111 pacientes em tratamento com cannabis medicinal em 2025, um aumento de 30% em relação ao ano anterior, segundo a Kaya Mind. Desse total, 354 mil acessaram os produtos por importação, 293 mil por farmácias e 226 mil por associações. A cannabis medicinal já chegou a 85% dos municípios brasileiros, indicando ampla expansão do acesso em todo o país.
O cenário mostra que o Brasil segue dependente do fornecimento internacional.
Oportunidades do mercado
A percepção é reforçada por Alex Cameron, gerente-geral da Flextem Biopharma Brasil. Segundo ele, o Uruguai acumula uma curva longa de desenvolvimento técnico: “Pela vanguarda, pelo desenvolvimento de produtos, processos, sementes, plantas matrizes e pela cadeia de validação, o país já está preparado.” Cameron destaca que os produtos possuem padrão Pharmagrade — uma exigência central para o consumidor e para os órgãos reguladores brasileiros. “O mercado brasileiro, assim como o uruguaio, sai ganhando com essa movimentação nos Estados Unidos.”
Para o consultor e cofundador da The Green Hub, Marcelo Grecco, o momento exige que o Brasil olhe “para novos lugares e novos horizontes”. Ele defende que a mudança global torna o Uruguai um parceiro natural: “Começar a olhar para o Uruguai com carinho, muito mais do que eu olharia para a Europa, com euro super alto.” Grecco enfatiza que o país vizinho combina clima ideal, qualidade e logística eficiente. “O que precisamos fazer para aumentar essa demanda e realmente fazer o Uruguai aparecer no mapa como maior exportador?”, questiona.
A combinação de proximidade geográfica, rigor técnico, capacidade de adaptação agrícola e qualidade farmacêutica pode abrir novas oportunidades para o Uruguai.
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