CBD não é eficaz para dor crônica? Entenda

Novo estudo afirma que "produtores estão negociando com a esperança e o desespero de pacientes”, mas especialista contesta: “é preciso cautela, pois sempre há interesses por trás de determinadas ações”

Publicada em 12/04/2024

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Um recente estudo do Reino Unido ecoou uma mensagem preocupante, afirmando que o CBD (Canabidiol) é ineficaz no tratamento da dor crônica, e pode até ser prejudicial à saúde. No entanto, ao mergulharmos nas profundezas dessa pesquisa, é crucial contestar suas conclusões e explorar uma visão mais abrangente sobre o papel do CBD nesse cenário complexo.

Revelando a Narrativa do Estudo

A pesquisa liderada pela Universidade de Bath e publicada no Journal of Pain, levantou sérias dúvidas sobre a eficácia do CBD no alívio da dor crônica. Os autores do estudo argumentam que os produtos à base do composto da cannabis são uma fonte de desespero para os consumidores, sendo promovidos como uma panaceia para todas as formas de dor, apesar da falta de evidências substanciais para respaldar tais reivindicações, como explica o médico psiquiatra com amplo conhecimento sobre terapia canabinoide, Dr. Wilson Lessa.

O especialista ressalta que embora o Tetrahidrocanabinol (THC) seja o canabinoide com mais evidências para dores neuropáticas, o CBD também pode ser eficaz para alguns pacientes. Além disso, os mecanismos de ação desses dois compostos são distintos, o que sugere a possibilidade de efeitos sinérgicos quando combinados.

“Enquanto a ação analgésica do THC seja mediada pelo sistema endocanabinoide, essa mesma ação do CBD ocorre via sistema vaniloide”, afirma o profissional e saúde. O médico ressalta ainda que é verdade que existem poucos estudos e alguns desenhos de pesquisas frágeis sobre ao tema, no entanto, estudos de mundo real contrastam com essa revisão.

A Complexidade dos Estudos e Limitações

É importante reconhecer as limitações dos estudos analisados no Reino Unido, como aponta o Dr. Lessa, ressaltando que muitas dessas pesquisas enfrentam influências externas de um contexto em que a proibição da cannabis pode distorcer as conclusões.

“Neste estudo, por exemplo, publicado em janeiro de 2024 na National Library of Medicine, podemos avaliar os benefícios e malefícios comparativos dos opioides e da cannabis para uso médico na dor crônica não oncológica. Em uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios randomizados, 22.028 pacientes foram elegíveis para a pesquisa, entre os quais, o tempo de acompanhamento variou de 28 a 180 dias. Como conclusão, os pesquisadores destacaram que a cannabis para uso médico pode ser igualmente eficaz e resultar em menos interrupções do que os opioides no controle da doença”.  

O estudo do Reino Unido ressalta a importância de abordar as promessas infundadas feitas em torno do CBD, especialmente considerando os grupos vulneráveis que podem ser afetados. Contudo, não se pode ignorar os resultados de estudos clínicos do mundo real, que indicam que a cannabis para uso medicinal pode ser uma alternativa eficaz e segura para o tratamento da dor crônica.

“A quem será que o uso medicinal da cannabis está incomodando tanto? Pelo visto, não são os pacientes”, conclui Lessa.  

Rumo a uma Discussão Equilibrada

Diante das narrativas conflitantes sobre o CBD e a dor crônica, é essencial adotar uma abordagem equilibrada e baseada em evidências. Enquanto continuamos a explorar os benefícios e riscos do CBD, devemos garantir que os pacientes tenham acesso a opções de tratamento que sejam seguras, eficazes e devidamente regulamentadas. O verdadeiro objetivo deve ser proporcionar alívio para aqueles que enfrentam a doença, sem ceder a exageros ou desinformação.