A Cannabis feminina

Em sua nova coluna para o Sechat, a médica Jackeline Barbosa apresenta elementos curiosos sobre os gêneros da Cannabis, sendo a planta feminina a que tem teores de fitocanabinoides em concentrações suficientes para uso terapêutico

Publicada em 03/05/2021

capa
Compartilhe:

Coluna de Jackeline Barbosa*

Olá vocês, é sempre uma alegria compartilhar minhas prosas mentais. Meu convite hoje é para pensarmos um paralelo sobre o lugar que a Cannabis tem ocupado e aquele que o feminino vêm tentando recuperar na sociedade atual.

Imagine que em um momento recente da história, a figura feminina passou a ser considerada algo frágil e submisso, que precisava ser protegida, a quem passou a ser negada a força e as convicções próprias.

Como tudo na história, esse molde foi sendo forjado, pouco a pouco. Nem sempre havia sido assim e nisto, nessa nova narrativa, tanto à Cannabis quanto ao feminino como arquétipo, o poder foi sendo visto como ameaça e, como tal, foi sendo forçosamente calado. À guisa de proteção ou cuidado, aprisionado e proibido. Veio a revolução industrial. Mulheres deram início a uma trajetória de não realizar exclusivamente os afazeres domésticos e passaram a ocupar as fábricas e indústrias. Final do século XX, e já com muito esforço e engajamento, movimentos feministas deflagram conquistas, que vêm se consolidando em diversas áreas, mas ainda inspirando lutas nas mais diversas frentes, e a isso é bem certo que nem seja preciso esforço para atentar.

Hoje o feminino se impõe e, nesse movimento, começa a recuperar o equilíbrio de sua presença, notada por lugares de fala, singularidades e sabedorias, a permear os mais diversos assuntos.

Hoje o feminino se impõe e, nesse movimento, começa a recuperar o equilíbrio de sua presença, notada por lugares de fala, singularidades e sabedorias, a permear os mais diversos assuntos. A figura do feminino demanda esse resgate, soberana que é, pela própria natureza. Equitativa na ancestralidade, embora por um tempo forçada ao silêncio e à opressão, seus poderes vêm de origem remota. Natureza e tempo, feminino e masculino, senhores de força e poder. Força que pode advir frágil, ingênua e doce, como a da semente, assistida pelo tempo, vencendo a terra, ainda quando é árida, e crescendo e se expandindo e florindo.

Flor de Cannabis, fruto partenocárpico. Feminino e masculino em perfeito e natural equilíbrio. Da planta feminina, todo o poder terapêutico.

Flor de Cannabis, fruto partenocárpico. Feminino e masculino em perfeito e natural equilíbrio. Da planta feminina, todo o poder terapêutico.

Da planta masculina, toda a coragem do desbravamento. Fibra, tijolo, fecundação e sementes. E, de novo, a feminina flor, a feminina planta, o feminino. Definido não pelo sexo, não só pelo gênero, mas por fortaleza, trajetória e propósitos.

Se flor de planta fêmea dá remédio, flor de planta macho dá sustento, sem fecundação não há semente e é da semente o mérito do equilíbrio, de onde brota a própria vida.

Plantas que limpam os solos. Solos que fecundam, plantas que preparam os frutos, e de novo as flores e, com elas, os remédios.

Uma jornada de complementos, de presenças imponentes, de proibições e renascimentos.

Solo é leito árduo, mas transforma a semente feminina em jornada de cura. O feminino tendo como principal escudo a sua própria doçura.  Já não se duvida da capacidade extraordinária do feminino.

A planta feminina é a que tem teores de fitocanabinoides em concentrações suficientes para uso terapêutico. A planta masculina não tem quantidades expressivas destas substâncias, sendo por isso usada principalmente para a produção de fibras, tecidos, saneamento de solos, construção, adubos.

Mas se você está aí se perguntando o que esse poder feminino tem a ver com Cannabis? Essa crônica era só mesmo pra dizer que a Cannabis é considerada uma planta dioica. Essa designação é dada para espécies botânicas em que o sexo está separado, ou seja, há plantas Cannabis masculinas e plantas Cannabis femininas. A planta feminina é a que tem teores de fitocanabinoides em concentrações suficientes para uso terapêutico. A planta masculina não tem quantidades expressivas destas substâncias, sendo por isso usada principalmente para a produção de fibras, tecidos, saneamento de solos, construção, adubos.

Curiosa que sou, estive outro dia a pesquisar se os nomes Marijuana, Mari Jane, Marihuana, guardariam qualquer relação com o  feminino da planta, mas encontrei pelo menos quatro versões completamente diferentes sobre a origem dos termos, que não me permitiram chegar a uma só conclusão. Se você também conhece uma história para o uso destes nomes, compartilhe nos comentários, será muito bom conhecer mais narrativas.

Enfim e portanto, se a realidade concreta da força feminina já não vê mais espaço para ser questionada, também não há de continuar a ser inibida a força que mora no feminino da Cannabis. Gênero que vence as intempéries do tempo, que é no tempo que a natureza se impõe, e revela seu poder.

*Jackeline Barbosa é médica, com doutorado em Ciências Médicas pela UFRJ e Mestrado em Neurologia pela USP de Ribeirão Preto, e colunista do Sechat.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.

Veja outros artigos de nossos colunistas: 

Alex Lucena 

– Inovação e empreendedorismo na indústria da Cannabis (19/11/2020)

– Inovar é preciso, mesmo no novo setor da Cannabis (17/12/20)

 Sem colaboração, a inovação não caminha (11/02/2021)

Bruno Pegoraro

– A “legalização silenciosa” da Cannabis medicinal no Brasil (31/03/2021)

Fabricio Pamplona

– Os efeitos do THC no tratamento de dores crônicas (26/01/2021)

 Qual a dosagem ideal de canabidiol? (23/02/2021)

– CBD: batendo na porta da psiquiatria (05/04/2021)

– Está comprovado: terpenos e canabinoides interagem diretamente com mecanismo canabinoide (27/04/2021)

Fernando Paternostro

– As multifacetas que criamos, o legado que deixamos (11/3/2021)

– Vantagem competitiva, seleção natural e dog years (08/04/2021)

Jackeline Barbosa

 Cannabis, essa officinalis (01/03/2021)

Ladislau Porto

– O caminho da cannabis no país (17/02/2021)

– Associações x regulação x Anvisa x cannabis (26/04/2021)

Luciano Ducci

– Vão Legalizar a Maconha? (12/04/2021)

Mara Gabrilli

– A luta pela Cannabis medicinal em tempos de cloroquina (23/04/2021)

Marcelo de Vita Grecco

– Cânhamo é revolução verde para o campo e indústria (29/10/2020)

– Cânhamo pode proporcionar momento histórico para o agronegócio brasileiro (26/11/2020)

– Brasil precisa pensar como um país de ação, mas agir como um país que pensa (10/12/2020)

– Por que o mercado da cannabis faz brilhar os olhos dos investidores? (24/12/2020)

– Construção de um futuro melhor a partir do cânhamo começa agora (07/01/2021)

– Além do uso medicinal, cânhamo é porta de inovação para a indústria de bens de consumo (20/01/2021)

 Cannabis também é uma questão de bem-estar (04/02/2021)

– Que tal CBD para dar um up nos cuidados pessoais e nos negócios? (04/03/2021)

– Arriba, México! Regulamentação da Cannabis tem tudo para transformar o país (18/03/2021)

– O verdadeiro carro eco-friendly (01/04/2021)

– Os caminhos para o mercado da cannabis no Brasil (15/04/2021)

- Benchmark da cannabis às avessas para o Brasil (29/04/2021)

Maria Ribeiro da Luz

– Em busca do novo (23/03/2021)

– A tecnologia do invisível (20/04/2021)

Patrícia Villela Marino

– Nova York, cannabis, racismo e prisão (28/04/2021)

Paulo Jordão

– O papel dos aparelhos portáteis de mensuração de canabinoides (08/12/2020)

– A fórmula mágica dos fertilizantes e a produção de canabinoides (05/01/2021)

– Quanto consumimos de Cannabis no Brasil? (02/02/2021)

 O CannaBioPólen como bioindicador de boas práticas de cultivo (02/03/2021)

– Mercantilismo Português: A Origem da Manga Rosa (06/04/2021)

Pedro Sabaciauskis

– O papel fundamental das associações na regulação da “jabuticannábica” brasileira (03/02/2021)

 Por que a Anvisa quer parar as associações? (03/03/2021)

– Como comer a jabuticannabica brasileira? (13/04/2021)

Ricardo Ferreira

– Da frustração à motivação (03/12/2020)

– Angels to some, demons to others (31/12/2020)

 Efeitos secundários da cannabis: ônus ou bônus? – (28/01/2021)

 Como fazer seu extrato render o máximo, com menor gasto no tratamento (25/02/2021)

– Por que os produtos à base de Cannabis são tão caros? (25/03/2021)

– A Cannabis no controle da dor e outras consequências do câncer (22/04/2021)

Rodolfo Rosato

– O Futuro, a reconexão com o passado e como as novas tecnologias validam o conhecimento ancestral (10/02/2021)

– A Grande mentira e o novo jogador (10/3/2021)

– Mister Mxyzptlk e a Crise das Terras Infinitas (14/04/2021)

Rogério Callegari

– Sob Biden, a nova política para a cannabis nos EUA influenciará o mundo (22/02/2021)

– Nova Iorque prestes a legalizar a indústria da cannabis para uso adulto (17/03/2021)

Stevens Rehen

 Cannabis, criatividade e empreendedorismo (12/03/2021)

Waldir Aparecido Augusti

– Busque conhecer antes de julgar (24/02/2021)

– Ontem, hoje e amanhã: cada coisa a seu tempo (24/03/2021)

Wilson Lessa

– O sistema endocanabinoide e os transtornos de ansiedade (15/12/2020)

– O transtorno do estresse pós-traumático e o sistema endocanabinoide (09/02/2021)

– Sistema Endocanabinoide e Esquizofrenia (09/03/2021)

– O TDAH e o sistema endocanabinoide (16/04/2021)