Psicodélicos: uma revolução científica

Pesquisadores brasileiros falam sobre o futuro dos psicodélicos e traçam um panorama científico sobre o tema

Publicada em 04/11/2021

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Por João R. Negromonte

Você provavelmente já ouviu falar da história de que psicodélicos como o cogumelo, o LSD, MDMA e o DMT, podem ser utilizados contra a depressão, mas sabia que muitas das pesquisas nesse campo são comandadas por cientistas brasileiros? Apesar de preconceito de parte da academia, estudos no Brasil tem mostrado resultados promissores no combate à doenças psiquiátricas no país.

Traçando mais um panorama do que aconteceu no último Cannabis Thinking, no palco Health and Science, o Sechat divulga o bate papo com Stevens Rehen e Luis Fernando Tófoli, speakers da mesa de psicodélicos.

Stevens Rehen é um neurocientista brasileiro, especializado em pesquisas com células-tronco. Professor titular do Instituto de Biologia da UFRJ e pesquisador do Instituto D’Or. Membro da Academia de Ciências da América Latina e Membro Afiliado da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS). Além disso, é autor de mais de 100 artigos científicos publicados em revistas internacionais que somados ultrapassam 5.500 citações, autor de 10 capítulos de livros e colunista Sechat.

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Já Luis Tófoli, possui graduação em Medicina pela Universidade de São Paulo (1996), residência médica em Psiquiatria (2000) pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo e doutorado em Medicina (Psiquiatria) pela Universidade de São Paulo (2004). Também é professor-doutor do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Além de co-fundador do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (LEIPSI), Tófoli é membro permanente dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Médicas (Concentração em Saúde Mental) e em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

Para entender melhor, questionamos os pesquisadores sobre algumas dúvidas que grande parte de nós ainda temos, confira:

Porque os psicodélicos voltaram a aparecer e onde e como ocorreu a mudança de paradigma de uma droga para um medicamento?

A transição original, na verdade, é contrária: de substâncias com potencial terapêutico (ainda não são regulamentadas, então eu evito o termo 'medicamento') para drogas proscritas. Isso aconteceu na virada da década de 1960 para 1970, por razões culturais e porque a biomedicina da época apostava mais em outras categorias de psicotrópicos, como os antidepressivos e os tranquilizantes. O retorno dos psicodélicos para o paradigma terapêutico se deu, na minha opinião, basicamente pelo reconhecimento de que os psicofármacos clássicos 'bateram no teto', ou seja, alcançaram os benefícios possíveis, mas não há novidades nesse campo faz um tempo, ao mesmo tempo que não se resolveu o problema dos transtornos mentais. É possível também que haja influência de uma postura política menos proibicionista, em uma onda que vem, tímida mas constantemente, crescendo no mundo.

Luis Tófoli

Recentemente vimos uma reportagem dizendo que os psicodélicos podem restaurar ligações cerebrais perdidas com a depressão. Com o que temos de estudos disponíveis hoje, é possível afirmar isso, ou ainda necessitamos de estudos mais robustos?

Hoje em dia, os estudos mostram que a psilocibina (substância encontrada em alguns cogumelos) é capaz de induzir a neuroplasticidade, que é justamente uma flexibilização da comunicação celular entre neurônios. Então, esses prolongamentos dos neurônios, que se conectam através dessas estruturas que a gente chamadas de sinapses, possibilita, ao estimular os receptores de serotonina, aumentar essa neuroplasticidade, que tem uma função terapêutica, ligada por exemplo, a quadros de depressão, estresse pós-traumático, etc. É daí o efeito biológico com potencial terapêutico que se busca explorar.

Steven Rehen

Mesmo carecendo de regulamentação - assim como a cannabis - no Brasil, as medicina psicodélica vem ganhando força. O vídeo publicado na página de Rehen na internet, ilustra um pouco a importância da pesquisa científica e como essas substancias podem se tornar uma grande aliada no futuro. Veja aqui.

O século 21 testemunhou uma demanda global por mudanças na maneira como a saúde mental e o bem-estar são considerados e tratados em comunidades ao redor do mundo. De acordo com a empresa de mídia digital com foco em psicodélicos, Global Trac Solutions, os psicodélicos medicinais parecem responder a esse apelo por mudança, criando uma nova indústria que deve chegar a US $ 6,85 bilhões em 2027.

Quando questionado sobre esses números e se o mercado realmente pode alcançar esse potencial econômico, Tófoli é enfático:

Minha preocupação não é com o tamanho do mercado e sim como vamos tornar esses medicamentos acessíveis às pessoas, especialmente as mais necessitadas. Claro que empresas serão necessárias para o registro dos psicodélicos como tratamento, porque esse é o modelo vigente em nosso país atualmente. Porém, meu foco principal é pensar em como essas terapias, se comprovadas, poderão ser assimiladas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro.

Luis Tófoli

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Por isso, é importante conhecer mais sobre essas substâncias, que nada mais são que um estado psíquico de quem está sob a ação de um alucinógeno, fazendo com que o indivíduo tenha uma percepção de aspectos da mente que desconhecia anteriormente e, para além de alterar a consciência com sensações semelhantes ao sonho, psicose e êxtase religioso, os psicodélicos podem ser uma grande arma contra várias patologias que afetam toda uma sociedade.