Parar com a nicotina é a meta de jovens no Ano Novo: CBD surge como aliado contra a superdependência
A alta potência dos vapes desafia quem deseja parar de fumar, mas pesquisas recentes indicam o canabidiol como uma terapia promissora para o controle da dependência e redução de danos
Publicada em 31/12/2025

O canabidiol (CBD) desponta como uma ferramenta terapêutica promissora para o controle do tabagismo e a redução de danos. Imagem: Canva Pro
Dados recentes divulgados pela organização Truth Initiative revelam que 67% dos jovens adultos usuários de nicotina, com idades entre 18 e 24 anos, têm uma meta clara: parar de fumar no Ano Novo. A busca pela saúde física e mental é o principal motivador dessa decisão.
No entanto, o cenário atual impõe obstáculos crescentes para quem decide abandonar o vício. A elevada potência dos novos dispositivos de entrega de nicotina, como os cigarros eletrônicos (vapes), dificulta a cessação pelos métodos tradicionais.
Nesse contexto desafiador, pesquisas científicas recentes apontam uma nova esperança. O canabidiol (CBD) desponta como uma ferramenta terapêutica promissora para o controle do tabagismo e a redução de danos.
A superdependência dificulta a decisão de parar de fumar
Embora a intenção de parar de fumar seja alta, o mercado de nicotina sofreu alterações drásticas nos últimos cinco anos. O relatório da Truth Initiative indica que, entre 2017 e 2022, a concentração de nicotina em cigarros eletrônicos descartáveis quase triplicou.
Além do aumento da substância, a capacidade de armazenamento de líquido nesses dispositivos quintuplicou. Simultaneamente, o preço caiu cerca de 70%, facilitando o acesso e agravando a dependência.
No Brasil, a realidade reflete essa tendência global de aumento na toxicidade. Um estudo da Vigilância Sanitária de São Paulo, em parceria com o Incor e a USP, analisou 200 usuários de vape.
A constatação foi alarmante: a concentração de nicotina no organismo desses usuários chega a ser de três a seis vezes maior do que a encontrada em fumantes convencionais. Essa potência elevada resulta em uma dependência acelerada, dificultando o processo de parar de fumar.
Impacto na saúde mental e ansiedade
Dados mostram que 76% dos adolescentes que usam vapes consomem o produto nos primeiros 30 minutos após acordar. O impacto na saúde mental é direto, pois a dependência de nicotina pode amplificar quadros de ansiedade e depressão.
A CEO e presidente da Truth Initiative, Kathy Crosby, comentou, em nota, sobre o cenário atual em nota oficial. Segundo ela, os jovens enfrentam um mercado projetado para agravar o vício.
"Os jovens querem parar de fumar, mas estão tentando se libertar em um mercado inundado por produtos maiores, mais baratos e mais potentes. Sabemos que a dependência da nicotina pode amplificar sentimentos de ansiedade, depressão e estresse, por isso é importante que os jovens entendam que parar de fumar não significa abrir mão de algo — significa retomar o controle."
O cenário no Brasil e a busca para parar de fumar pelo SUS
O Brasil, historicamente reconhecido por suas políticas antitabagismo, observou uma reversão de tendência em 2024. Pela primeira vez desde 2007, houve um aumento no número de fumantes, com uma elevação de 25%.
A prevalência do tabagismo subiu para 13,8% entre os homens e para 9,8% entre as mulheres. Simultaneamente, a busca por ajuda médica para parar de fumar cresceu significativamente.
Em 2023, mais de 420 mil pessoas recorreram ao Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar o tabagismo. No entanto, as recaídas ainda são frequentes, o que abre espaço para a investigação de novas abordagens terapêuticas.
O papel do Canabidiol (CBD) para quem quer parar de fumar
Diante da complexidade do vício, que envolve fatores químicos e comportamentais, o uso terapêutico do canabidiol tem sido estudado como estratégia complementar. Diferente de tratamentos que apenas repõem a nicotina, o CBD atua na modulação do Sistema Endocanabinoide (SEC).
Estudos indicam três frentes principais de atuação do canabinoide para auxiliar quem deseja parar de fumar:
Redução da ansiedade e "craving": Um ensaio clínico com 56 fumantes demonstrou que o uso de CBD oral (400 a 800 mg/dia) por três dias resultou em redução significativa no consumo de cigarros e na ansiedade da abstinência.
Interferência metabólica: Pesquisas in vitro sugerem que o CBD inibe as enzimas hepáticas CYP2A6 e CYP2B6, responsáveis por metabolizar a nicotina. Isso pode prolongar a presença da nicotina no corpo, reduzindo a urgência física pela reposição.
Regulação da recompensa: O CBD atua como agonista parcial de receptores de dopamina. Ele ajuda a reequilibrar o sistema de recompensa do cérebro sem causar euforia, diminuindo o risco de recaídas por gatilhos emocionais.
Além da questão química, há o fator comportamental do "gesto de fumar". O uso de vaporizadores com extrato de cannabis full spectrum (sem nicotina) é avaliado por especialistas como uma forma de transição, preservando o hábito motor enquanto se trata a dependência química.



