O que os médicos não enxergam na cannabis medicinal: qualidade, publicidade e bastidores da indústria

Especialistas discutem padrões de qualidade, limites da comunicação e os desafios para profissionalizar o mercado brasileiro

Publicada em 03/12/2025

Ricardo Pattená (Carmen’s Medicinals), Margareth Akemi (Mackenzie/CRSP), Leonardo Navarro (ICR) e Fabio Furtado (Green Care) após a gravação do episódio 50 do Deusa Cast

Ricardo Pettená (Carmen’s Medicinals), Margareth Akemi (Mackenzie/CRSP), Leonardo Navarro (ICR) e Fabio Furtado (Green Care) após a gravação do episódio 50 do Deusa Cast | Imagem: Sechat

O episódio 50 do Deusa Cast reuniu especialistas para discutir dois pilares essenciais para o desenvolvimento da indústria da cannabis medicinal no Brasil: qualidade dos produtos e limites da publicidade no setor. Participaram Ricardo Pettená, CEO da Carmen's Medicinals; Margareth Akemi, professora e pesquisadora do Mackenzie e coordenadora do Comitê de Cannabis do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo; Leonardo Navarro, advogado e diretor jurídico do ICR; e Fabio Furtado, CEO da Green Care.

Ricardo Pettená destacou a responsabilidade dos médicos diante do crescimento do mercado e do aumento de fornecedores. “Os médicos têm a oportunidade e a responsabilidade de escolher adequadamente. O problema é quando temos tantos fornecedores assim e o médico é ‘bombardeado’. Sei que a vida do médico não é fácil, mas ele precisa aprender a separar o joio do trigo.”
Pettená reforçou que o profissional não pode prescrever sem conhecer o zelo da empresa. “O médico não pode prescrever um produto sem saber qual é o nível de zelo da empresa com os produtos [...] Os médicos precisam entender essa diferença entre as empresas.”

A comunicação no setor também foi apontada como fundamental. Margareth Akemi ressaltou a importância de orientar corretamente profissionais e pacientes. “É preciso educar o médico e o paciente.” Ela destacou a precariedade da comunicação no mercado de cannabis e lembrou que a empresa precisa oferecer produto de qualidade e informação de qualidade.
“Se a população brasileira não sabe diferenciar o que é uma aspirina da Bayer de uma dipirona ou um ácido acetilsalicílico, imagina no mercado de cannabis se eles acham que qualquer plantinha vai de qualquer jeito e serve para qualquer coisa!”

A regulamentação da publicidade foi detalhada por Leonardo Navarro, que explicou os limites legais conforme a Portaria 344 da Anvisa. “Existem muitos medicamentos que você pode comprar sem prescrição. Você vai na farmácia e compra. Esse medicamento eu posso ter outdoor, folheto na farmácia para o paciente... Mas quando a gente entra nos produtos regulados pela Portaria 344 da Anvisa, aí apertou o cerco. A empresa não tem para onde correr. A gente só tem uma forma de comunicação, que é a comunicação para o médico; comunicação técnica para o médico prescritor e para o dispensador, que é o farmacêutico. Tirando disso, estou infringindo norma.”

Fabio Furtado explicou que a garantia da qualidade envolve processos amplos e consistentes. “A garantia da qualidade é algo mais amplo: é garantir que, desde a concepção do produto — como frasco, estabilidade do produto, fotoestabilidade — tudo que foi utilizado para desenvolver o produto. E ao construir um dossiê de tudo que foi utilizado para fazer o produto, que isso seja replicado em cada lote, em um padrão, para sempre. E toda vez que o paciente receber o produto, ele seja idêntico ao que recebeu no primeiro lote.”


Furtado também citou o cultivo, a extração, a logística, o estudo de temperatura e o controle de estresse como etapas que precisam ser asseguradas pelas empresas.

Temas como rastreabilidade, qualificação de fornecedores e adesão correta ao tratamento pelo paciente foram apontados como fundamentais para o desenvolvimento do setor.

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