Pesquisa em universidade analisa efeitos prolongados de medicamentos à base de cannabis na medicina veterinária

Cerca de 80% dos cães acima dos oito anos são portadores de osteoartrite. A UNILA quer averiguar se as substâncias da planta são capazes de melhorar a qualidade de vida dos animais

Publicada em 18/08/2022

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Por Sofia Missiato

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) em parceria com o Hospital Veterinário Pop Vet e a Associação Santa Cannabis procura avaliar a eficácia no tratamento com extrato de cannabis para cães portadores de osteoartrite. 

Osteoartrite é a forma mais comum de artrite, caracterizada por degeneração das cartilagens acompanhada de alterações das estruturas ósseas, é uma doença que se identifica pelo desgaste da cartilagem articular, geralmente acomete pessoas com mais de 50 anos e cães acima de 8 anos.

O diferencial da análise focará  no perfil de segurança do Canabidiol (CBD) e do Tetrahidrocanabnil (THC) – substâncias químicas canabinóides que apresentam efeito terapêutico, no prolongamento do uso terapêutico em cães e como isso se comportaria no organismo dos animais.

Participam do estudo, Neide Griebeler, médica veterinária, anestesista e mestranda em Biociências na UNILA e Ricardo Cremonese, graduado em farmacologia e mestrando pela UNILA, todos sob orientação do professor Dr. Francisney Nascimento.

A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) é uma instituição de ensino superior pública brasileira sediada na cidade de Foz do Iguaçu, Paraná. Com alunos advindos de países como Paraguai, Argentina e Uruguai, a universidade é pioneira em estudos canábicos e desde  2017, participa de estudos clínicos sobre atividades farmacológicas da cannabis em doenças neurológicas, reumatológicas e psiquiátricas.  

Atualmente, segundo os pesquisadores, os tratamentos disponíveis causam alguns efeitos colaterais, como alterações renais, hepáticas e gástricas. Foi o que contou Neide Griebeler

‘’Temos acometimentos renais e hepáticos devido ao uso prolongado das medicações tradicionais disponíveis hoje no mercado, o que torna a situação difícil já que é uma doença crônica. Por exemplo, o corticoide é um dos medicamentos usados para o alívio da dor,  sabemos que esse medicamento tem efeitos adversos em vários tecidos. Na cartilagem, ele  faz uma degradação, ou seja, alivia a dor por algum momento, porém, aumenta também a lesão. Isto sem considerar os outros distúrbios hormonais e endócrinos que ele pode causar, como aumento da glicose e diabetes’’.

O  Laboratório de Cannabis Medicinal e Ciência Psicodélica da Unila já possui grande eficácia em pesquisas de cannabis sobre humanos e por isso há grande expectativa para a análise veterinária. De acordo com Neide Griebeler, a osteoartrite no humano, ocorre da mesma forma que no cão, e assim como no pet, é uma doença ainda sem um tratamento eficiente. “Já disponibilizamos alguns estudos que nos mostram o grande potencial da cannabis para doenças como esta e nosso objetivo é promover qualidade de vida  nos pacientes, para a diminuição do sinal clínico. Por isso, estamos com uma expectativa grande para os possíveis resultados positivos’’.

O ensaio clínico randomizado será dividido em dois grupos: metade receberá compostos da erva, enquanto a outra receberá doses de placebo. O óleo da maconha é fornecido pela Associação Santa Cannabis, de Florianópolis, que produz a planta e extrai a essência para o uso medicinal. 

O uso de derivados de cannabis como tratamento em animais ainda não é regulamentado no Brasil. Por isso, se esse medicamento tiver resultado positivo nos pacientes, pode ser um avanço na medicina veterinária.