Padre Ticão, defensor da cannabis medicinal, é alvo de ataques em São Paulo

Após promover evento que falou sobre gênero, aborto e cannabis, religioso e a paróquia receberam ameaças de grupos católicos radicais

Publicada em 12/08/2019

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Moradores do bairro Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo, realizaram um ato de apoio à Paróquia São Francisco de Assis neste sábado (10), após a entidade ser alvo de ataques de grupos conservadores da própria Igreja Católica. No mesmo local, religiosos contrários às atividades da paróquia também se manifestaram.

Segundo a ONG Católicas pelo Direito de Decidir, as reações conservadoras começaram durante a 36ª Semana da Juventude, realizada pelo grupo Renovação Jovem. Entre as atividades, estavam uma roda de conversa sobre cannabis medicinal conduzida pelo pároco Antonio Luiz Marchioni, conhecido como Padre Ticão, além de uma palestra sobre gênero, aborto e religião.

Segundo a ONG, Padre Ticão, integrantes da paróquia e jovens do grupo Renovação Jovem estão sendo atacados com mensagens de ódio, calúnias e até ameaças de morte. "São os mesmos que enchem as redes sociais de comentários cruéis e desumanos, fazendo apologia à Inquisição, à tortura e ao armamento, em total descompasso com os ensinamentos de Jesus Cristo", escreveu a organização em nota.

Entre as forças contrárias a essas atividades, está o "Templário de Maria". Para este grupo, a paróquia "não é espaço para debates sobre aborto e métodos contraceptivos (...) porque a Igreja Católica não debate este tema. Sobre o aborto, a Igreja diz: não. E a palavra da Igreja é final. Nenhum católico tem direito de discutir sobre isso na Igreja Católica e em lugar algum."

Outro grupo mais conservador ainda, o Salve Roma, acusa o padre Ticão de promover sacrilégio: "oremos pelo fim da inércia das autoridades competentes, pela conversão do Padre Ticão ao catolicismo romano e em reparação pelos sacrilégios que o mesmo tem permitido acontecer em sua paróquia".

Esses ataques motivaram resposta até mesmo do conselho estratégico da Universidade Federal de São Paulo, que saiu em defesa do religioso, da ciência e da liberdade de pensamento. Numa moção de apoio à pesquisa, os 90 membros do conselho lembram ainda que as palestras sobre cannabis medicinal contam com o apoio do Dr Elisaldo Carlini, um dos pioneiros nos estudos da planta e atual diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Unifesp. 

"É inadmissível a intimidação contra o Padre Ticão e o ataque à liberdade de pensamento, fundamentais à liberdade de pensamento, à democracia e à ciência. Professor (Elisaldo) Carlini também foi acusado injustamente em 2018, recebeu desagravo de toda a comunidade científica brasileira e foi contemplado em 2019 com o mais alto prêmio da ciência do Brasil, como professor emérito pelo CNPq, reconhecendo o pioneirismo e o mérito de sua pesquisa na área. (...) A ciência e a democracia avançam se opondo ao obscurantismo e ao autoritarismo. Precisamos sempre defendê-las, sob risco de enorme retrocesso".

A paróquia, por sua vez, formou um grupo de advogados que irá mover ações contra os crimes de intolerância religiosa, difamações e calúnias e apologia ao crime.