Osmar Terra alega que associação de pacientes fornece maconha para traficantes

Entidade é autorizada pela Justiça Federal a plantar Cannabis e produzir remédios desde 2017; ONG analisa processar o ministro por difamação e danos morais

Publicada em 10/12/2019

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Sem apresentar provas, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, alegou em entrevista à GloboNews, nesta segunda-feira (09), que a associação de pacientes Abrace Esperança, da Paraíba, estaria fornecendo maconha para traficantes.

A entidade é autorizada desde 2017 pela Justiça Federal paraibana a cultivar a planta e produzir medicamentos para pacientes com prescrição médica. Ela atende atualmente mais de 2 mil famílias.

"Não tem como regulamentar uma coisa que tu não consegue nem proibir direito. Se tu tem uma inundação de produtos vindo, se tu autorizar o plantio… essa associação da Paraíba, semana passada foi acusada de estar fornecendo a traficantes, de ter traficantes se beneficiando do plantio. É claro que eles vão fazer isso. Vamos para o mundo real, se começar a plantar maconha, em todo lugar vai ter gente interessada em vender, traficar. Ora, bolas!", acusou o ministro.

"Nós estamos numa realidade em que a droga causa dependência química, cria uma população escrava, milhões de filhos já perderam o filho para as drogas. É isso que nós vamos estar liberando se começarmos com essa história de maconha medicinal. Vai para a maconha recreativa, o uso se dissemina de uma maneira muito maior e a epidemia de drogas vai piorar".

Não se sabe se o ministro se referiu à operação policial que bateu na sede da entidade, em João Pessoa, no mês passado, após a PM receber uma denúncia anônima. No entanto, naquela ocasião, a Abrace apresentou os documentos que autorizam seu funcionamento, e os policiais deixaram o local sem qualquer prisão ou apreensão.

O diretor da entidade, Cassiano Teixeira, informou ao Sechat que o advogado da Abrace entrará com uma ação contra Osmar Terra no Supremo Tribunal Federal exigindo que o político apresente provas de sua alegação. Caso ele não prove, a entidade o processará por difamação e danos morais. A entidade também pedirá Direito de Resposta à emissora.

"O ministro falou inverdades e deve se retratar ou sofrer as consequências: demissão", exigiu Cassiano.

A ONG também encaminhou ao Sechat uma nota de repúdio à declaração do ministro da Cidadania, afirmando que o político está travando "uma espécie de batalha infantil" e desconsidera o benefício que a entidade proporciona aos pacientes:

O posicionamento do Sr. Ministro da Cidadania Osmar Terra no programa Globo News do dia 09/12/2019 demonstra a incapacidade que o ministro tem de sequer compreender o objeto tema da discussão, trazendo temas relacionados ao consumo recreativo e irresponsável quando o assunto é o tratamento de patologias refratárias e não refratárias que se beneficiam do consumo de cannabis em suas mais variadas formatações.

Além de trazer dados de origens duvidosas e desconsiderar os enormes avanços que nós e diversos pesquisadores ao longo do mundo tem evidenciado, o ministro parece seguir em uma espécie de batalha infantil na qual todos estão errados exceto o mesmo. Além disso, o mesmo senhor levanta informações sem sequer citar a origem das mesmas para dizer que uma associação da Paraíba estaria sendo acusada de fornecer Cannabis ao tráfico apenas para tentar provar um ponto sem de fato fazê-lo, divulgando falsas informações e gerando receio na população.

As intenções do ministro são por vezes obscuras e aparentemente apáticas quando o mesmo desconsidera os benefícios que famílias podem ter e estão tendo ao utilizar-se de um extrato provindo de uma planta da qual é possível tratar tantas patologias e trazer tanta qualidade de vida para aquelas pessoas. Já se cultiva Cannabis no Brasil desde 1783 com a criação da Real Feitoria do Cânhamo e sua proibição está atrelada a interesses de grupos que lucram com sua proibição usando da mentira como retórica.