“O amor dos pais pelos seus filhos é capaz de quebrar qualquer preconceito”, diz Norberto Fischer em live

A família Fischer abre seu coração em live e revela como é ser considerada pioneira no uso da cannabis medicinal no Brasil e como foi difícil ultrapassar as barreiras do preconceito para chegarmos até aqui

Publicada em 23/02/2022

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Por João R. Negromonte

Convidados para participar da live, que foi ao ar nesta terça-feira (22/2), pelo canal @sechat_oficial do Instagram, Norberto e Katiele Fischer, pais de Anny, primeira brasileira a conseguir autorização para importar o canabidiol (CBD) para o Brasil, deram um depoimento emocionante sobre as dificuldades e burocracias que tiveram que enfrentar para conseguir tratar sua filha com cannabis e como a nossa legislação, mesmo que a passos lentos, vem melhorando em relação a essa pauta. 

Anny, que é portadora de uma síndrome rara chamada de CDKL5, é considerada o principal motivo da luta pela regulamentação do uso medicinal da cannabis no país. Na live, exibida ontem às 19h, pudemos acompanhar um pouco mais dessa história de superação.

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Segundo relata os pais, Anny teve sua primeira convulsão aos 45 dias de vida, o que alertou o casal de que algo poderia estar errado. Por se tratar de uma doença muito rara, os médicos na época não conseguiam descobrir o motivo da menina apresentar aquele comportamento, o que, por quase 5 anos, continuou sendo uma incógnita.

Depois de muito tempo sem saber ao certo o que a filha tinha, os dois finalmente receberam uma notícia, que os deixou felizes e ao mesmo tempo tristes. O diagnóstico de Anny enfim tinha saído. Aquilo mexeu com toda a família pois, por mais que eles almejavam ter essa certeza, sabiam que a partir dali tudo ficaria mais difícil.

“Parecia os cinco estágios do luto (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação), o que estávamos vivendo naquele momento,” revela Katiele.

No entanto, eles não entregaram os pontos e começaram a fazer pesquisas sobre a doença, pois assim, conseguiriam encontrar o melhor tratamento para filha. Após muitos estudos e tentativas frustradas com os métodos terapêuticos convencionais, o casal, através de uma dica de Margarete Brito (APEPI), outra mãe que também merece destaque e possui um caso parecido com o dos Fischer, se depararam com o canabidiol (CBD).

Na época aquilo soava um tanto estranho, principalmente para eles que vinham de famílias tradicionais. "Como assim existe um remédio de maconha que pode tratar a CDKL5,” questionava o casal. 

Mas, após se aprofundarem nas pesquisas que mostravam os benefícios desse medicamento contra a patologia de Anny, os Fischer resolveram arriscar e começaram a importar o CBD, ainda de forma ilegal, para testarem na filha. Claro que eles procuraram o médico responsável pelo caso para alertá-lo que iriam iniciar essa terapia alternativa, que até então, ninguém tinha muito conhecimento. 

O médico disse que poderia acompanhar o tratamento, mas que não iria prescrever nem mensurar uma dosagem ideal para Anny. Mesmo assim, tomados pelo desespero de ver a filha convulsionar cerca de 80 vezes por semana, eles arriscaram e, no dia 11 de novembro de 2013, deram a primeira dose de canabidiol para a filha.

A apreensividade tomava conta deles, pois não tinham certeza do que poderia acontecer. Entretanto, depois de alguns dias, eles começaram a notar os resultados. As crises epilépticas já não eram mais constantes e a qualidade de vida e do sono de Anny havia melhorado drasticamente. 

Porém, “nem tudo são flores”, comentou o casal. Após quatro meses com a menina apresentando um quadro bem mais estável, a alfândega barrou a entrada do medicamento no país e acionou o casal para explicações. A partir dali, começou uma luta com legisladores e Anvisa para conseguir uma autorização de importação para que a filha pudesse continuar o tratamento.

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"A única maneira de se derrubar um preconceito é com a informação, mas informação de qualidade, fundamentada. A pessoa que escuta um argumento com essa características, acaba aceitando, pois normalmente, as pessoas dão atenção para aquilo que está sendo dito, mostrado e provado,” diz Norberto.

Assim, após buscarem seus direitos junto aos órgãos responsáveis e serem personagens principais no documentário “Ilegal, a vida não espera”, tido como um marco histórico no uso medicinal da cannabis no país, aparecendo inclusive na grande mídia, os dois conseguiram autorização para continuar a importação do medicamento e, assim, garantir que a filha continuasse o tratamento.

Quando questionados sobre o que mudou de lá pra cá em relação ao uso terapêutico da planta, os dois destacam:

“De 2013 pra cá, a pesquisa avançou muito. Durante nossas palestras, que viajamos por diversos lugares do país, vimos vários trabalhos de conclusão de cursos falando sobre a cannabis medicinal. Hoje, as universidades debatem o tema abertamente. Até na escola do nosso sobrinho, já aconteceu uma palestra sobre cannabis medicinal. Vivemos uma revolução e, por mais que não seja o cenário ideal, a agilidade para conseguir esses medicamentos melhorou demais.”

O Brasil é um celeiro de oportunidades e, por isso, levar a informação de qualidade e correta para aqueles que têm o poder de mudar, acelera o processo tanto na área de saúde, quanto industrial, gerando muitas oportunidades de emprego, renda e negócios.

O exemplo dos Fischer mostra que não podemos mais esperar para que o governo federal mude as leis. Cada um deve fazer a sua parte, começando lá de baixo, dos pequenos municípios, até chegar nos legisladores de forma natural. Talvez assim, um dia a cannabis seja amplamente regulamentada no Brasil, em todos seus usos e formas, para que, como disse Norberto Fischer: “o amor dos pais pelos seus filhos, ultrapasse as barreiras do preconceito”. 

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Quer saber mais sobre a história de Anny Fischer, como a luta de uma família pode mudar o cenário regulatório nacional e ver como a menina está hoje? Dê o play no vídeo abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=hTFIx-T4JSo