Mercado da cannabis tem perspectiva crescente de investimento

Desafios para investidores e produtores ainda esbarram nas inseguranças jurídicas, mas mercado tem boa perspectiva de expansão para os próximos anos

Publicada em 06/05/2022

capa
Compartilhe:

Por Ana Carolina Andrade

Para aqueles que tem interesse em investir no mercado da cannabis, o painel do terceiro dia do Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal trouxe boas perspectivas. Mediado pelo repórter de economia e negócios Victor Sena, teve a participação de agentes de diversos setores que envolvem os negócios na área.

O analista de investimentos da Empiricus, Enzo Pacheco, acompanha há 5 anos este mercado e trouxe dados promissores. “A perspectiva de movimentação do setor até 2026 é de US$ 60 bilhões. Apenas em 2021 foram movimentados US$ 29 bilhões com a cannabis legalizada, sendo US$ 23,3 bilhões apenas nos EUA”, explica.

Pacheco acredita que o mercado americano é o mais interessante para os investimentos pela ampliação da legalização do uso medicinal e recreativo que tem acontecido em diversos Estados. Ele ainda explica que neste mercado, as ações de cannabis são muito voltadas aos investidores de pessoa física, já que ainda não há no país uma legislação a nível federal, o que traz o receio de algumas empresas.

A atratividade das ações da cannabis se dá por vários fatores, entre eles o valuation atrativo, em que empresas da área negociam suas ações por valores abaixo de companhias com crescimento similar, além de fatores como a crescente ampliação da legalização nos estados e de uma população cada vez mais favorável a legalização, assim como pela iniciativa de políticos que tem produzido projetos de lei para regulamentação da área.

Fundos de investimento de cannabis têm crescido

Ainda que as possibilidades de investimento sejam muito positivas, os desafios para quem se propõe a investir não são pequenos. Sócio fundador da fintech Vitreo, onde é Chief Investiment Officer (CIO), George Wachsmann entrou neste mercado em 2019, quando percebeu que existia um interesse nas oportunidades de investimento em cannabis.

Sua empresa fez o primeiro fundo de investimento brasileiro voltado para cannabis, e os questionamentos começaram no momento de batizá-lo. O primeiro dilema, de acordo com Wachsmann, foi qual nome seria dado ao produto, pelos temores da reação da mídia e da opinião pública quanto à ligação com a cannabis. O nome escolhido foi “Canabinoide”, e já no segundo lançamento de fundo, com outra confiança, o batismo foi de “Cannabis ativa”.

As dúvidas jurídicas e inseguranças com as operadoras financeiras também foram parte do processo, e em um momento de mudança da administração do fundo chegaram a contratar um advogado criminalista para obter um parecer de que não estavam cometendo nenhum crime.

Waschmann vê muito potencial no crescimento do mercado e incentiva que quem puder, se torne um investidor dele. “Não tenho a menor dúvida de para onde vai este mercado, a gente está só na fronteira, arranhando o potencial que este mercado tem”, disse.

Câmbio favorável é necessidade de pacientes e empresas

As altas taxas de câmbio e a perspectiva de ajudar os pacientes e empresas do mercado da cannabis, levaram Felipe Paiva, da Money Transfer Expert na Abrão Filho Banking & Câmbio, a propor à empresa em que trabalha a proposta de atuar no mercado de cannabis. A recepção foi positiva, e hoje atendem tanto pessoas físicas, que precisam pagar um fornecedor de cannabis medicinal em moeda estrangeira, quanto empresas que realizam a intermediação entre o paciente e o produto.

Segundo Paiva, o trabalho se constrói realizando estruturações cambiais da melhor forma, para que os valores cheguem ao seu destino no exterior como operações legítimas e dentro da lei, para que não tenham problemas de complaince.

A diversidade no mercado de cannabis e a maneira como várias empresas estão tentando fazer o mercado de forma inclusiva foi abordada por Paiva, que acredita que é necessário um trabalho coletivo. “Se quisermos alavancar o mercado, trazermos inclusividade precisamos dar oportunidade para os pequenos, o que o pequeno empreendedor criou, para as startups, para as associações”, disse.

Uruguai traz lições e mercado crescente com a legalização

País pioneiro na legalização da cannabis no mundo, o Uruguai já conta com uma maior estruturação de seu mercado, que além de possibilitar segurança jurídica, regula a colheita, produção, cria políticas públicas de redução de danos, e incentiva o seu desenvolvimento com pesquisa e financiamento. Facundo Fernández Guerra, Cônsul Comercial do Uruguai em São Paulo, retratou o atual quadro de seu país após a legalização do uso recreativo, medicinal e industrial da cannabis.

De acordo com Guerra, há um crescimento do setor no Uruguai. “Atualmente existem 120 empresas do setor no país, sendo que 80% delas são pequenas ou médias e geram mais de 1.000 empregos diretos. No ano de 2020, US$ 7,5 milhões foram gerados para o país com a exportação de produtos de cannabis”, relata.

O país pode não ser o único na América Latina a ter benefícios econômicos com a utilização da cannabis. Para Guerra, há no continente muitas vantagens para o desenvolvimento da cannabis, como a experiência na produção agropecuária, condições climáticas produtivas, e um mercado de consumo com grande potencial de crescimento.

E percebendo um campo de ampliação de investimentos, André Neumann, executivo e empreendedor, fundador da Blooming, realizou estudos para fundar sua empresa no Uruguai. Desde 2019, a Blooming é uma empresa licenciada especializada no cultivo de cannabis medicinal em estufas no país.

Neumann destacou que a segurança jurídica e os incentivos aos investidores são pontos de atração para os investimentos no Uruguai, e explicou sobre o processo de funcionamento da sua empresa. “Temos um cultivo em estufa sofisticada, com controle ambiental, e diferente de outras produções temos 3 safas por ano”, relata.

O empresário ainda coloca que as operações financeiras seguem com dificuldades, mas que não são impossíveis, pois como se sabe, nem todos os bancos estrangeiros aceitam operar no mercado de cannabis.