Colômbia e Uruguai disputam empresários brasileiros da cannabis medicinal

Enquanto no Brasil ainda tramita o processo de regulação do setor, mesmo com desaprovação do governo federal, empresas brasileiras fazem negócios nos países vizinhos

Publicada em 04/09/2019

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Enquanto no Brasil ainda tramita o processo de regulação da Anvisa para o cultivo de cannabis medicinal e o registro desses remédios, mesmo com movimentos contrários do governo federal, nossos vizinhos atraem empresários brasileiros dispostos a investir no setor. Primeiro foi o Uruguai, com sua regulação pioneira no mundo. Contudo, nos últimos dois anos a Colômbia parece ter conquistado o protagonismo desse mercado no subcontinente e busca agora se tornar a principal produtora de maconha legal no mundo.

Meia década após a legalização no Uruguai, a produção no país não está sendo suficiente para suprir a demanda do uso recreativo. Porém, na área medicinal e de cosméticos, onde a brasileira Gabriela Cezar atua, o mercado está crescendo. Ela é CEO da Panarea Partners, empresa norte-americana que criou uma espécie de incubadora em Montevidéu para empresas da área.

"Do ponto de vista regulatório, o Uruguai é o segundo país, junto com o Canadá, que tem uma legislação federal - o que não é o caso dos EUA -, que nos permite, desde o cultivo, até pesquisa e desenvolvimento, manufatura, estudos clínicos e exportação. Então, por isso, desenvolvemos o pólo no Uruguai. Além disso, apesar de o Canadá ter a legislação permissiva e favorável a todas essas etapas, no Uruguai nós temos uma política de zona franca. Então até as maiores empresas canadenses, que já tem a legislação federal no seu país de origem, estão com subsidiárias no Uruguai", explica a empresária.

Segundo Gabriela, o Uruguai traz como grande vantagem para as empresas brasileiras, primeiro a proximidade geográfica, mas principalmente tratados de Mercosul que garantem nenhum imposto de importação.

"É na Colômbia que está o business"

Já o fundador e CEO da VerdeMed, José Bacellar, joga suas fichas na Colômbia. No país andino, a empresa criada no ano passado já está com um laboratório em funcionamento e licenciada pelo governo para fazer plantio e extração.

O empresário também destaca que o mercado promissor está lá e que o país inclusive já tem tradição no plantio da cannabis e clima apropriado. Que basta trazer o know-how dessa produção que estava no mercado negro para o regulado. Bacellar diz inclusive que o Uruguai "nunca foi protagonista".

"A Colômbia é onde está o business. No Uruguai, o pessoal planta indoor, a gente tem sete hectares de plantação outdoor, temos plantações orgânicas. A Colômbia está em outro planeta, é um lugar maravilhoso de se fazer negócios, e a lei funciona. Tem proteção às empresas, e no Uruguai é um pouco turva a água. Na Colômbia a água é cristalina. As regras são claras", argumentou.

Há quem prefira, no entanto, investir em ambos os países. É o caso da Entourage Phytolab, de Valinhos, no interior de São Paulo, que desenvolveu medicamento com canabidiol mas não aguardou a Anvisa para começar os trabalhos. Segundo o CEO da empresa, Caio Abreu, a proposta da agência reguladora não agradou, e os investimentos seguirão apenas em outros países.

"A indústria propriamente, nós como companhia não estamos dispostos a fazer no Brasil, mesmo que essa norma seja aprovada. Vamos continuar no Uruguai produzindo nossa matéria prima, temos outros parceiros na Colômbia e no Canadá para nos suprir de matéria-prima, e nosso laboratório no Uruguai dada a segurança regulatória do país", informou.

A Anvisa prevê concluir o processo de regulação do plantio de cannabis com fins medicinais e o registro desses medicamentos até novembro. O governo, no entanto, é contra o plantio de maconha no Brasil.