Uma retrospectiva 2019 da Cannabis medicinal no Brasil, por Norberto Fischer

"Ano se destacou em três grandes pilares: o surgimento de novas ONGs canábicas, as diversas vitórias judiciais para plantio ou gratuidade e o aumento exponencial de interesse no assunto

Publicada em 23/12/2019

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Por Norberto Fischer

Comecei esse artigo com o objetivo de registrar fatos importantes, uma retrospectiva do avanço da Cannabis medicinal no Brasil, conquistas, mudanças, regulamentações, judicializações em destaques e os desafios para o próximo ano.

E acabei fazendo uma reflexão do impacto social desse assunto no Brasil no ano de 2019.

Para iniciar, responda as seguintes questões, de forma sincera:

- No primeiro dia de 2019, você imaginava que a Anvisa iria aprovar a criação de uma nova categoria de produtos derivados da Cannabis? Simplificaria o processo de registro desses produtos? Que iria autorizar a importação de insumos para a produção no Brasil, distribuição e venda nas farmácias? E até tentaria criar uma regulamentação para plantação em solo nacional?

Pois é... Basta esta reflexão para percebermos que o avanço, assim como escreveu o cientista brasileiro Fabrício Pamplona em um artigo publicado aqui no Sechat, não foi nada tímido.

De forma complementar, minha percepção, além desseacontecimento histórico ocorrido no âmbito da ANVISA, o ano de 2019 se destacouem três grandes pilares sociais:

  1. O surgimento de ONGs “canábicas” em todo o território nacional, que estão fazendo um trabalho incrível de mudança cultural e educação sobre as verdades e mentiras acerca do uso medicinal da Cannabis
  2. Diversas vitórias judiciais de pessoas comuns contra o estado, para que possam receber os produtos importados gratuitamente ou de salvo conduto para plantarem a Cannabis
  3. O aumento exponencial de pessoas que estão à procura de informações ou já buscando o início do tratamento com uso da Cannabis.

Essa mudança no cenário social tem provocado reposicionamentos por parte do Executivo e também das empresas que estão interessadas em investir nesse mercado. No entanto, ambos com grande divergência de opiniões e interesses.

O Legislativo Federal começa, aos poucos, a dar alguns passos tímidos para criar projeto de lei com propostas de regulamentação. No entanto, essa lentidão tem levado o Judiciário a atuar por intermédio de liminares para atender a sociedade no seu direito à saúde.

Em resumo, podemos destacar para 2019:

  • Maturidade sobre o tema crescendo exponencialmenteem nossa sociedade;
  • Empresas se reposicionando para investimentospesados no Brasil;
  • Governo Federal avançando de forma não alinhadaàs expectativas da sociedade;
  • Legislativo tentando sair da inércia, maspolarizando o debate politicamente, o que considero negativo para asexpectativas da sociedade.

No entanto, na minha opinião a “medalha de ouro destaque cannabico de 2019” vai para a ONG ABRACE e o seu mentor Cassiano Teixeira , que apesar das efetivas contribuições realizadas para a sociedade, recebeu destaque nacional ao ser acusado e ter seus valores morais questionados de forma equivocada por uma grande personalidade política.

Por fim, hoje, olhando para cada um dos acontecimentos importantes de 2019, sinto que nada foi tão profundo e tocou mais nossas almas do que as centenas de depoimentos de mães e pais sobre os avanços e conquistas de seus filhos especiais ao iniciarem o tratamento com a Cannabis medicinal.

Foi um ano repleto de depoimentos que emocionaram, fizeram o Brasil repensar e quebrar preconceitos.

Que em 2020 possamos continuar contribuindo e avançando parauma regulamentação que nos transforme uma sociedade mais justa e humana.

Pense nisso!

Norberto Fischer é o pai da Anny Fischer, a primeira brasileira autorizada a importar o extrato da maconha para uso medicinal. Se tornou um ativista social na luta pelo direito ao acesso a tratamento com cannabis.