Para Rodrigo Mesquita, falta de regulamentação da Cannabis medicinal cria dificuldades aos pacientes e ao próprio governo

Para o advogado, somente a possibilidade ao pleno acesso aos produtos já é motivo suficiente para a sociedade apoiar o PL 399/2015 e discutir os pontos que ainda são controversos

Publicada em 09/11/2020

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Por Sechat Conteúdo

A Live Sechat recebeu na última terça-feira (3) o advogado Rodrigo Mesquita, que é membro da comissão especial de assuntos regulatórios da OAB Nacional e diretor jurídico da Adwa Cannabis. A atração é transmitida pelo Instagram do Sechat e fica disponível no canal do Sechat no Youtube. O bate-papo contou com a condução do sócio e diretor Científico do portal, o neurocirurgião Pedro Antonio Pierro Neto. 

Em relação às leis que proíbem e limitam o acesso à cannabis medicinal, Mesquita acredita que o melhor contexto seria se toda a população tivesse pleno acesso a esses medicamentos, mas, para isso, o Brasil precisa de uma melhor regulamentação da cadeia produtiva da planta. Hoje, só é possível ter controle daquilo que é importado, o que acaba criando uma série de dificuldades aos pacientes e ao próprio governo, visto a ampliação da judicialização. 

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Além disso, ele considera que é prejudicado, também, o tratamento dos pacientes com medicamentos a base de cannabis, uma vez que os produtos disponíveis no mercado, por serem importados, não podem ser customizados. Isso ocorre porque a regulamentação da Anvisa possui algumas limitações, impedindo que o paciente tenha acesso a um produto específico para a sua necessidade, feito em uma farmácia de manipulação, o que torna o tema uma grande questão na esfera da política pública. 

Para ele, para que essa questão seja solucionada, a aprovação pela Câmara do substitutivo ao Projeto de Lei 399/2015 torna-se essencial, uma vez que irá regulamentar a cadeia produtiva da cannabis estabelecendo um marco legal que permita plantio para fins medicinais e industriais. “O projeto é resultado de uma síntese da correlação de forças dentro da institucionalidade brasileira. Portanto, tem seus limites, já que estamos em um contexto de uma agenda conservadora”, contextualizou.

Porém, ainda que o texto possa ter algumas limitações, ele defende que é preciso que se institua no Brasil um programa de Cannabis medicinal, que pode ser considerado, futuramente, uma referência mundial, com acesso gratuito pelo SUS e incorporação das associações no processo produtivo. “Esse forte incentivo ao pleno acesso à Cannabis medicinal já é motivo suficiente para apoiarmos o projeto e discutirmos esses pontos que ainda são controversos”, comentou. 

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À Anvisa, que integra o Poder Executivo, o PL 399 atribui um papel opinativo na questão. Alguns setores do governo, como o Ministério da Saúde, já produziram documentos condenando o projeto, dando abertura à Anvisa para a produção de um texto técnico refutando tal documento. Mas, em contexto geral, caso o projeto seja aprovado, a Anvisa ainda será responsável pela autorização dos requerimentos para o plantio da cannabis medicinal e o controle a respeito dos níveis de THC entre cannabis psicoativas e não-psicoativas.

Além disso, ele também atenta para a oportunidade que pode ser gerada ao programa Farmácia Viva, destinado ao cultivo, processamento e manipulação de plantas medicinais e fitoterápicos. “Essa é uma oportunidade de ouro para que as Farmácias Vivas se constituam de fato, uma vez que, se hoje não dispõem de uma estrutura tão organizada, essa é a oportunidade para que enfim isso aconteça”, disse o advogado. Ele ainda acrescenta que, nos últimos dias, o governo federal lançou um edital para a inscrição das secretarias municipais de Saúde ao Projeto Farmácia Viva, que parece não estar descolado do texto do projeto de lei em discussão.

Sobre a participação de projetos como a Farmácia Viva e de importantes associações, o doutor Pedro Pierro, que apresenta a Live, observou que o plantio de cannabis ainda é um tema que traz muita polêmica, já que muitas pessoas tem medo que, ao inserir o setor do agronegócio na discussão, as associações sejam afetadas, se tornando algo não democrático. “Acho que o setor do agronegócio é muito importante nesse debate, porque eles têm uma força que é muito respeitada, sendo necessário achar o caminho do meio que preserve as associações e que os dois coexistam”, acrescentou o médico.

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A história de Mesquita com a Cannabis 

Rodrigo conta que a discussão sobre a política de drogas é um tema presente em sua vida desde 2009, quando produziu um Trabalho de Conclusão de Curso de sua graduação sobre a inconstitucionalidade da criminalização do uso de drogas. Desde então, o interesse intelectual e político sobre o tema foi aumentando. 

No início de sua carreira como advogado, ele participou da construção da Marcha da Maconha de Teresina, em 2011. Pouco depois, quando se mudou para Brasília, o tema passou a o acompanhar na discussão acadêmica e política, sempre com uma dimensão de defesa dos direitos humanos. 

A partir daí, essa luta política passou a conquistar vitórias e reconhecimento de instituições que também lutavam pelo acesso à Cannabis medicinal. “Vendo a necessidade de atuar na segurança jurídica desse setor e na construção de um marco regulatório, passei a dedicar maior parte da minha atuação para isso”, afirma o advogado.

O plantio de cannabis no Piauí: oportunidade de negócio

Sobre as oportunidades de plantio no Piauí - estado natal de Mesquita - pelo fato de possuir clima e solo adequados para um ótimo plantio, a atividade apresenta grande potencial, já que há a falta de fatores básicos para a sobrevivência dos moradores da região. “O Brasil tem o potencial de ser o grande produtor de cannabis, para qualquer tipo de uso, para o mundo todo. Caso o país cultivasse cannabis de altíssima qualidade e a exportasse para o uso não medicinal e não científico, por conta da receita tributária, isso seria extremamente viável economicamente para o próprio governo.”

Adwa Cannabis busca mais investimentos para o setor

A Adwa, fundada em 2018 por Sérgio Rocha, nasceu com a proposta de desenvolver tecnologia para a cadeia produtiva da cannabis. A startup enxerga o mercado da cannabis como um elemento estratégico de soberania econômica e tecnológica nacional. “Das soluções que pretendemos oferecer está o desenvolvimento de variedades de cultivares de cannabis para o Brasil, trazendo maiores investimentos para o setor”, afirmou Mesquita. 

Lives Sechat

As lives do Sechat apresentam conteúdos inéditos todas as semanas em bate-papos descontraídos e ao mesmo tempo altamente informativos, conduzidos pelo sócio e diretor Científico do portal, o neurocirurgião Pedro Antonio Pierro Neto, contando com a participação de convidados especialistas que são referência na área de Cannabis medicinal.

Lives Sechat organizadas por tema e data

Confira a lista completa de lives, organizadas por tema e convidado, que você pode assistir tanto pela nova aba “Vídeos”, localizada no menu da home do portal Sechat, como pelo nosso canal no Youtube: 

– Cannabis x Covid-19, com Pedro Pierro Neto (30/03/14) e (31/03/2020)

Indústria x Covid-19, com José Bacellar (16/04/2020)

A importância do cultivo de Cannabis, com Arthur Arsuffi (20/04/2020)

Panorama da Cannabis na pandemia, com Wilson Lessa (20/04/2020)

Atendimento a Associados Canábicos em tempos de Covid-19, com Margarete Brito (20/04/2020)

Acesso a medicamentos, com Camila Teixeira (20/04/2020)

Uso de Cannabis em Animais, com Erik Amazonas (20/04/2020)

– Cultivando direitos, com Cida Carvalho (05/05/2020) e parte 2

Medicamentos à base de Cannabis, com Fabrício Pamplona (07/05/2020)

Telemedicina, com Viviane Sedola (14/05/2020)

Família e Cannabis Medicinal, com Neila Medeiros (26/05/2020)

Desafios de uma startup no Mercado de Cannabis Medicinal, com Jaime Ozi (28/05/2020)

Pesquísas cientícas dos medicamentos de Cannabis, com Dr. Wellington Briques (02/06/2020)

Lei de Fomento à pesquisa de Cannabis no RJ, com Carlos Minc (09/06/2020)

Esclerose múltipla e Cannabis, com Gilberto Castro (11/06/2020)

A cultura do cânhamo, com Lorenzo Rolim da Silva (16/06/2020)

Prescrição de Cannabis em animais, com Tarcísio Barreto (18/06/2020)

Cannabis, ansiedade e bem-estar, com Mohamad Barakat (23/06/2020)

Prospecções da regulação canábica no Brasil, com Rodrigo Mesquita (25/06/2020)

Como a expansão das associações ajuda pacientes, com Pedro Sabaciauskis (30/06/2020)

Teste clínico com Cannabis medicinal, com Murilo Gouvêa (02/07/2020)

Direito do paciente e a Cannabis medicinal, com Ana Izabel Carvana de Hollanda (07/07)

Inovação e Cannabis medicinal, com Alex Lucena (09/07/2020)

Como participar do ecossistema da Cannabis medicinal, com Marcel Grecco (14/07/2020)

O mercado de Cannabis no Uruguai, com Gabriela Cezar (16/07/2020)

Cannabis no tratamento de Parkinson, com Flávio Henrique de Rezende de Costa (21/07/2020)

A necessidade de uma legislação para medicamentos, com Fábio Mercante de San Juan (30/07/2020)

Tipos de extratos e vias de administração dos produtos à base de Cannabis, com Renata Monteiro (04/08/2020)

Tratamento com Cannabis medicinal, com Paula Dall’Stella (06/08/2020)

A Nova política para a Cannabis, com Marco Algorta (13/08/2020)

Canabinoides em Neuropsiquiatria: uma nova fronteira clínica, com Dr. Wilson Lessa Junior (20/08/2020)

Substitutivo do PL 399/2015, com Cassiano Teixeira (21/08/2020)

PL 399-2015 e o aumento de acesso à Cannabis medicinal, com Deputado Federal Eduardo Costa (28/08/2020)

Andamento do PL 399-2015, com Pedro Sabaciauskis (08/09/2020)

– Dificuldades de trabalhar com a Cannabis, com Ana Hounie (10/09/2020)

Avanços e Desafios da PL 399, com Pedro Gabriel Lopes (15/09/2020)

Preço de tratamentos com Cannabis, com Rodolfo Rosato (24/09/2020)

Análise de Canabinoides usando Cromatografia de Camada Delgada, com Paulo Jordão Fortes (14/10/2020)

Centro de Excelência Canabinóide, com Marcelo Sarro (20/10/2020)

A Importância do Acolhimento, com Neide Martins (28/10/2020)

PL 399/2015 , com Rodrigo Mesquita (03/11/2020)