O Brasil no momento certo: antes da próxima onda

A indústria da cannabis no Brasil, como qualquer outro setor, tem que entender em que momento está, o famoso timing, para saber se é a hora de esperar, de crescer com cuidado, ou de acelerar os planos

Publicada em 15/12/2021

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Por Marco Algorta*

Muitos especialistas em startups apontam que, para um projeto de sucesso, é preciso um bom modelo de negócio, um bom time, e, sobretudo, um bom timing

Mas qual é o momento da Cannabis no mundo?


A cannabis está em um momento de baixa. O Global Cannabis Stock Index mostra uma queda de 50% dos valores das principais empresas do mercado mundial nos últimos 6 meses.

Um estudo histórico do índice mostra que já tivemos três grandes ondas de crescimento da indústria da cannabis e que nenhuma delas foi igual.
A primeira, no final de 2013, que coincide com a legalização no Uruguai e com os avanços legislativos em alguns estados americanos, foi à prova de qualquer coisa. O otimismo por conta das reformas legais e o pouco conhecimento dos investidores sobre as dificuldades operacionais e regulatórias fizeram com que as ações tivessem um crescimento exponencial, apesar de efêmero.


O segundo grande momento, e o que mais durou, foi na segunda metade de 2018, e aconteceu junto com a legalização do Canadá. Foi o momento da promessa do mercado internacional da cannabis, com a transformação das grandes empresas canadenses em multinacionais e o surgimento de empresas latino-americanas, australianas e europeias com alcances mundiais nas suas projeções de mercados. O problema é que essas empresas subestimaram as dificuldades operacionais de uma indústria muito regulada, o que dificultou em grande medida o desenvolvimento desse mercado internacional. 

Houve uma terceira e curta onda de crescimento em abril de 2021, quando o aumento do consumo dos derivados da cannabis durante a pandemia e uma possível luz no fim do túnel da economia mundial levou a um aumento dos preços das ações. Porém, rapidamente, devido à lenta saída da crise “covid” e aos problemas estruturais das grandes empresas do setor, o famoso break even das empresas, ou seja, o momento em que começam a se tornar rentáveis, outra vez foi postergado, resultando na forte queda que observamos atualmente.

E qual é o momento do Brasil na Cannabis e como será a nova onda que certamente virá?

O Brasil é uma das eternas promessas do mercado da cannabis. No entanto, mesmo tendo o maior mercado interno na América Latina, e tendo gerado acesso a produtos de cannabis a mais de 60 mil pessoas, o Brasil continua prometendo mais do que cumpre. O Brasil tem condições únicas para essa indústria. Um alto nível de certificações, sobretudo se comparado com a região, conhecimento e capacidade produtiva, e um enorme mercado interno para abastecer. Mas, no horizonte estão os entraves regulatórios, as dificuldades burocráticas, a lentidão nos processos e a falta de confiança de que essas mudanças serão para sempre e não enfrentarão artimanhas políticas no futuro.

A futura onda da cannabis beneficiará empresas que tenham mercados consolidados, produtos de qualidade e que tenham entendido os requerimentos dos pacientes, além de garantias regulatórias sólidas. Talvez ainda falte um ano ou mais para esse momento e o Brasil tem tudo para subir na próxima onda. Mas muito trabalho terá que ser feito em 2022 se quisermos aproveitar essa oportunidade.

Marco Algorta mora no Uruguai e está na indústria da cannabis desde o começo. Ele foi um dos promotores da Câmara das Empresas de Cannabis Medicinal, sendo eleito o primeiro presidente. Marco deu palestras nos Estados Unidos, Canadá, México, Argentina, Uruguai e Brasil, é pai de cinco filhos e magister em narrativa e redação criativa.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

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