"Nossa posição são as evidências científicas" diz Fiocruz após organizar seminário de cannabis medicinal

Publicada em 12/07/2019

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No encerramento do 2º Seminário Internacional Cannabis Medicinal - um olhar para o futuro, domingo (30), o chefe de gabinete da presidência da Fundação Oswaldo Cruz, Valcler Rangel Fernandes (na foto com o microfone), fez um discurso emocionado sobre a os desafios da entidade para organizar um evento sobre esse assunto, em parceria com a Associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Maconha Medicinal (Apepi). O médico falou sobre a importância de buscar evidências científicas para combater o preconceito e disse que foi necessário "ousadia".

"Se não tivesse ousadia, a gente não ia em frente. Acho que o seminário foi fundamental para mostrar para quem queira ver que há ciência por trás desse movimento. É um movimento de necessidade dos pacientes, mas também é de geração de conhecimento. Daqui saem elementos fundamentais para a gente construir uma agenda de pesquisa que inclusive contenha outras instituições, que não só a Fiocruz, mas as universidades, o Instituto do Cérebro, e outras instituições da América Latina", deseja o médico. 

Valcer já foi diretor de Gestão Hospitalar no Rio de Janeiro de 2005 a 2007 e coordenou seis unidades hospitalares do Ministério da Saúde. Nesse período, coordenou atividades de planejamento, com destaque para o Plano Nacional de Saúde. Ele contou ao Sechat que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está aberto ao tema da cannabis medicinal.

"Nós temos encontrado no ministro da Saúde uma receptividade à busca de evidência científica. E desse modo nós vamos caminhar. Semana que vem teremos reuniões com o Ministério da Saúde para desenhar um projeto que inclua a realização de pesquisa, principalmente estudo clínico. Nossa forma de atuar é essa: apresentando dados, informações que coloquem nosso argumento com bases científicas, muito mais do que brigar ideologicamente como nos acusam. Nossa posição está baseada em evidências científicas do mundo inteiro".

Segundo Valcler, ainda há muito resistência sobre o tema, e o chefe de gabinete da Fiocruz diz que a entidade está à disposição em conversar com todos os setores da sociedade.

Presidente da Fiocruz: pesquisa com cannabis é linha fundamental da nossa política de inovação

No mesmo sentido de Valcler, se manifestou a presidente da Fundação Oswaldo Cruz na abertura do evento, no sábado (29). Nísia Trindade disse que a entidade, que fica no Rio, está em constante diálogo em Brasília.

"Nós temos conversado muito com o Ministério da Saúde, e eu vejo que há um caminho muito possível junto ao Departamento de Ciência e Tecnologia para avançarmos em pesquisas científicas nesta agenda. Acredito que nós possamos ter, em breve espaço de tempo, pesquisas mais precisas, e eu me comprometo a ser um agente nesse diálogo com o Ministério da Saúde para que a gente possa ter apoio nessa pesquisa".

Nísia afirmou que a cannabis medicinal "é uma linha fundamental dentro da política de inovação". Também disse que é papel da Fiocruz estreitar o trabalho com as associações de pacientes e contribuir com os estudos científicos que favoreçam tanto a produção quanto o acesso às informações científicas junto à sociedade. 

"O preconceito não é só com temas com estigma (como a maconha), mas é em relação a grande parte da agenda de pesquisa científica. Temos que levar isso em conta ao falarmos das evidências científicas. Temos que ter um trabalho de valorização das instituições científicas. Hoje, não só o Brasil, mas o mundo vive um momento de questionamento das instituições científicas".

O 2º Seminário Internacional Cannabis Medicinal - um olhar para o futuro foi realizado no último final de semana no Rio de Janeiro e reuniu médicos, cientistas, advogados, políticos e ativistas de sete países.