Margarete Brito rebate Osmar Terra

Publicada em 12/07/2019

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foto da Agência Huff: Margarete Brito

GOVERNO BOLSONARO E CANNABIS MEDICINAL

Apesar da comprovação da eficácia e segurança do uso medicinal da cannabis estar caminhando a passos largos, tanto no Brasil como no mundo, seja pelos excelentes resultados divulgados pelos pacientes, seja pela quantidade de artigos científicos já publicados sobre o tema, no clã bolsonarista ainda está longe de haver um consenso, isso se verifica pelos tuítes e posts em redes sociais de deputados e ministros do novo governo.

Agora em maio, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, se manifestou no seu Twitter: “não acredito que o Diretor da Anvisa, Renato Porto seja irresponsável a ponto de querer liberar o uso da maconha medicinal. Contra a lei, contra evidências científicas e contra o congresso é o Governo brasileiro”, mas logo em seguida apareceram alguns deputados do PSL se manifestando exatamente na direção contrária.

Ficou clara a contradição entre as posições de Osmar Terra e a deputada do PSL, bolsonarista, Carla Zambelli. Ela chamou o Dep. Marcelo Freixo para dividir um projeto para liberação do cultivo de maconha medicinal.

Quando se fala de uso recreativo, é compreensível que as pessoas tenham mais dificuldades para entender sobre o direito individual ao corpo e ao uso de substâncias lícitas e ilícitas. Ou ainda que a política de guerra contra as drogas não funcionou. Eu demorei entender, mas quando falamos de uso medicinal não é possível aceitar qualquer polêmica, não é aceitável uma postura como essa do Osmar Terra.

Tenho cá comigo duas hipóteses. Ou ele é um monstro ou falta a ele honestidade intelectual!

Numa pesquisa feita pelo programa da TV Globo, Fantástico, em 2014, foi perguntado se o telespectador era contra ou a favor do uso medicinal da maconha e mais de 86% responderam que eram a favor.

O mínimo que esperamos do Sr. ministro Osmar Terra é uma retratação em respeito às famílias e aos pacientes que tanto sofrem pela falta de regulamentação da cannabis no Brasil. A maior parcela da culpa pelo caos que vivemos hoje pela falta desta regulação é do Sr. Osmar Terra. Hoje, as associações de pacientes que poderiam estar organizadas e regulamentadas produzindo legalmente extratos de qualidade a preços acessíveis sofrem pela falta de acesso e ficam reféns de um mercado que cresce exponencialmente, tanto de novas marcas de óleos importados caríssimos, quanto do mercado de óleos artesanais -- que não tem controles qualitativo e quantitativo.

Temos que lembrar também que os consultórios médicos estão cada dia mais lotados de pacientes pedindo aos seus médicos orientação e receitas para fazerem uso acompanhado da cannabis medicinal.

Esses mesmos médicos ficam de mãos atadas porque não podem prescrever um remédio que o paciente não terá acesso ou terá muita dificuldade de dar continuidade a um tratamento.

É preciso que se alcance a capacidade de reconhecer a necessidade de caminharmos juntos, ainda que com estratégias distintas, no sentido de uma regulamentação que atenda nossas tão demandas urgentes. Uma regulamentação que respeite as liberdades individuais e que atue contra o racismo, intrinsecamente ligado à criminalização da maconha -- principal causa do encarceramento em massa e do verdadeiro genocídio de uma população pobre e negra.

É preciso que a sociedade atente para as diferenças econômicas que restringem as possibilidades de acesso ao cultivo do vegetal e que respeite as diretrizes do acesso universal à saúde, como prevê nossa constituição. Temos que ser capazes de construir movimentos sociais que estejam de fato preocupados em transformar a realidade !