Mãe diz que o óleo de Cannabis "faz milagres" no tratamento da epilepsia da filha

Este ano, a médica Ana Rita, que também é paciente de cannabis, criou um consultório online para esclarecer e ajudar doentes à deriva, que usam cannabis em patologias sem indicação, tomam doses acima do recomendado ou misturam erva com outros fármaco

Publicada em 02/04/2021

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Curadoria e edição de Sechat Conteúdo, com informações de Notícias Magazine (Inês Schreck)

Ana Rita entra na cozinha, abre a geladeira e mostra o frasco com o óleo que faz “milagres”. Aquele líquido amarelo foi adquirido na Internet por 125 euros. Em fases mais críticas, chegou a gastar duas embalagens por mês, mas agora está há mais de dois meses sem usá-lo. Guarda-o como se fosse ouro, embora nunca tenha assistido ao vivo ao “milagre” do óleo de canabidiol (CBD), já que, quando tem convulsões, perde a consciência. E é a mãe quem lhe coloca o óleo dentro da boca, junto aos dentes, tão cerrados que quase racham. A mãe garante-lhe que “é um milagre”. Com o óleo acaba-se o transe, o corpo relaxa e o pesadelo fica por ali. 

Há centenas de doentes em Portugal que recorrem a produtos à base de Cannabis para aliviar dores e espasmos provocados por certas doenças, para eliminar efeitos adversos de tratamentos, para reduzir convulsões e ganhar qualidade de vida. A maior parte destes preparados têm THC (tetrahidrocanabinol, a substância da Cannabis com efeito psicoativo) e CBD, os dois principais canabinoides da planta. A utilização de substâncias à base de Cannabis para fins medicinais, quando os tratamentos convencionais não funcionam ou provocam efeitos adversos relevantes, está prevista na lei portuguesa desde 2018. Mas as limitações no acesso têm sido muitas.

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Especialista em Medicina Geral e Familiar, Ana Rita tem uma esclerose múltipla que lhe provoca espasmos na bexiga e incontinência. Em 2016, começou a estudar as propriedades dos canabinoides e, entretanto, desenvolveu epilepsia. Foi aí, quando saltava de medicamento em medicamento e de crise em crise, que decidiu experimentar o óleo de canabidiol.

Ana vive com os pais, em Gaia, e chegou a ir a Vigo, aos clubes sociais espanhóis, onde é permitido a aquisição de Cannabis para fins adultos e terapêuticos, comprar flor seca. Passava na fronteira com receio de ser parada. Nunca aconteceu. Com um vaporizador fazia uma a duas inalações. E funcionava.

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Mais recentemente, começou a comprar o óleo de CBD pela Internet. No momento, tem as duas doenças controladas e recorre ao frasco que está na geladeira apenas em momentos críticos. Mas o óleo nem sempre é igual e as análises à sua composição são pouco credíveis. Este é um dos problemas que os doentes enfrentam e que a venda autorizada nas farmácias vem resolver. Deixar de recorrer ao mercado ilegal e ter acompanhamento médico na toma destes produtos são outras vantagens que todos anseiam.

Opção mais barata do óleo chega em Portugal

Até agora só há um medicamento disponível nas farmácias, com participação aprovada. O Sativex tem indicação para adultos com esclerose múltipla, mas o preço – 300 euros por frasco, já com comparticipação – é inacessível para muitos doentes. Mas, no dia 1 de abril, vai chegar às farmácias de Portugal a flor seca da Cannabis, da empresa Tilray, com uma concentração de 18% de THC e menos de 1% de CDB. Não é considerado um medicamento, mas um preparado para inalar com um vaporizador certificado, e poderá ser usado em seis das sete indicações terapêuticas que, segundo a lei, podem beneficiar destas substâncias. Este produto vai ser vendido, com receita médica, em frascos de 15 gramas por 150,87 euros. “Seguramente várias dezenas de milhares de doentes são elegíveis para o novo produto”, conforme acredita José Tempero, diretor global dos assuntos médicos da Tilray.

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Apoio aos pacientes de cannabis

Este ano, Ana Rita criou um consultório online para esclarecer e ajudar doentes à deriva, que usam cannabis em patologias sem indicação, tomam doses acima do recomendado, misturam erva com outros fármacos, desconhecendo os riscos de interação medicamentosa.

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Sobretudo, a maior parte dos pacientes são adultos em tratamento oncológico, doentes que não conseguem controlar a dor e também crianças com epilepsias. Sempre que necessário, Ana Rita articula-se com médicos de outras especialidades. Os contatos chegam de todo o país e até de fora. “Desde a aprovação da lei, os benefícios da cannabis começaram a ser encarados como milagres, mas não é bem assim. É uma arma terapêutica, não é a solução para todos os males”, resume.

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