A cannabis pode ser eficaz contra câncer de cabeça e pescoço?

Canabinóides como o CBD e o THC apresentam, como sugerem as evidências clínicas, maior aplicabilidade no manejo dos sintomas associados ao câncer que os medicamentos tradicionais

Publicada em 21/01/2022

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Por João R. Negromonte com informações de Pebmed

Sintomas como dores, náuseas e vômitos são muito comuns em pacientes que fazem tratamento contra câncer. Entretanto, estudos mostram que a cannabis pode ser uma alternativa eficiente no controle dessas ocorrências. 

Além disso, e apesar dos dados ainda serem limitados, pesquisas recentes mostram que a incidência do uso da cannabis em pacientes oncológicos vem crescendo. Tal aumento, deve-se ao reflexo de uma legalidade e aceitação cultural que impulsiona o uso crescente entre pacientes com a doença, incluindo aqueles que tratam neoplasias (massa de tecido anormal que surge em diferentes partes do corpo) de cabeça e pescoço. 

Dessa maneira, em uma curadoria feita por dois revisores independentes da Pebmed (plataforma brasileira de notícias sobre tecnologia e medicina), através de dados dos principais bancos científicos do mundo como Pubmed, Embase e Web of Science, selecionaram diversos estudos sobre a relação da cannabis com esses tipos de câncer.

Abordando todos artigos que atendiam aos critérios de inclusão e respeitando, segundo eles, a metodologia científica, o desenho do estudo, tamanho da população entrevistada, assim como os dados demográficos do paciente (ou seja, tipo de câncer, status do tratamento, tipo de tratamento), além do tipo de produto de cannabis, chegaram a alguns resultados que serão compartilhados neste post.    

O que dizem os estudos? 

A pesquisa selecionou 275 estudos do PubMed, 178 do Embase e 204 da Web of Science. Dentre estes, os revisores da Pebmed selecionaram 41 que se enquadraram nos critérios da pesquisa. Seguindo a análise de texto completo, foram identificados apenas cinco estudos que forneceram informações relevantes e atenderam aos critérios de inclusão. 

Segundo os pesquisadores, dois dos cinco estudos forneceram dados sobrepostos de pacientes, ou seja, apresentavam o mesmo grupo de pesquisados, porém, foram incluídos por apresentarem resultados diferentes. 

Outros dois casos apresentaram os efeitos da cannabis na sobrevida do paciente. Um deles demonstrou que dos 74 voluntários que faziam uso adulto da cannabis no tratamento para carcinoma espinocelular de orofaringe, indicaram uma menor sobrevida em relação àqueles que não faziam uso da planta. Já o outro caso, em um estudo de coorte prospectivo, ou seja, que busca investigar a história natural (aspectos subclínicos e clínicos) de enfermidades pesquisadas, mostrou que não houve diferença significativa entre usuários e não usuários na questão da sobrevida desses pacientes. Além disso, não foi encontrada distinção nas taxas de metástase (quando há uma formação tumoral em outras partes do corpo em decorrência de outro tumor), quando comparado aos grupos de quem faz uso e de quem não usa cannabis. 

“Por outro lado, um estudo de coorte prospectivo de Zhang et al. que avaliou o impacto da cannabis de folhas soltas recreativas em uma população de 148 pacientes, em tratamento para câncer de cabeça e pescoço com intenção curativa, indicou melhora significativa na dor, ansiedade, depressão e bem-estar geral para a coorte de cannabis, em comparação com o grupo controle,” relata os revisores dos estudos. 

Por último, um outro estudo transversal, conduzido por Elliott et al, apontou que em 15 pacientes com câncer de cabeça e pescoço em tratamento com radioterapia ou quimioterapia, a terapêutica adjunta com derivados da cannabis como o CBD e o THC, demonstraram eficácia no auxílio do cuidado dos sintomas da doença. Conforme pesquisa, os resultados demonstram uma melhora subjetiva na dor (67%), apetite (60%), xerostomia (53%), saliva pegajosa (47%), dificuldade em mastigar (33%), disfagia (60%), espasmo muscular (47%), ganho de peso / manutenção do peso (73%), depressão (67%) e ansiedade (33%). 

Conclusão

Por ora, de acordo com os autores do estudo, quando questionados sobre o uso terapêutico de cannabis, parece razoável aconselhar os pacientes a evitar níveis elevados de THC para minimizar potenciais efeitos adversos. Já o CBD, foi constatado que suas propriedades anti inflamatórias, podem colaborar no controle dos sintomas decorrentes do tratamento do câncer e da própria doença em si.  

Por fim, os pesquisadores concluíram que: “é impossível tirar quaisquer conclusões sobre os benefícios ou efeitos adversos da cannabis nesta população de pacientes. No entanto, a atual falta de evidências não refuta a eficácia da cannabis. Sendo assim, estudos de alta qualidade são necessários para os médicos fornecerem aconselhamentos aos pacientes que estão usando ou interessados em cannabis como um tratamento adjuvante”.